quarta-feira, 27 de maio de 2015

Relatório de Leitura e Debate - 21/05/15

Discussão do texto “Uma nova estratégia”, de Karl Kautsky, como parte dos debates entre este e Rosa Luxemburgo, presentes em “Debate sobre a greve de massas” nos Cuadernos de Pasado y Presente.

Iniciou-se a discussão levando em conta o presente nas páginas 201-3, onde compreendeu ali uma lição teórica sobre o método, ainda que com dificuldade explanada ou aplicada pelo autor. Sugeriu-se que o que se salva no texto é a lição de que “aprender não significa imitar” – que não se trata apenas de registrar os eventos passados (fracassos e acertos) como num processo evolutivo. De resto, entendeu-se, e assim pareceu ao grupo como um todo, que o texto não tem muito mais a oferecer, que há ali mais interesse em espicaçar a adversária do que qualquer outro objetivo.

Também se indicou, na passagem das páginas 202-3, uma falta de dialética, em maneira dupla: a) investigação do presente a partir do passado, ao invés da investigação do passado a partir do presente – aspecto do método presente na Introdução da Contribuição à Crítica da Economia Política. O texto dá a entender uma mera investigação causal e b) sugere uma previsão segura do futuro, o que talvez esvazie de sentido a intervenção da luta de classe.

Houve intervenção neste momento e se abriu o debate. Defendeu-se que o termo causalidade, na verdade, é corrente em Engels, com quem Kautsky se relacionou consideravelmente, e que além disso, o que se busca aí é, em verdade, entender quais causas se dão em cada contexto. Que não adianta tratar a Alemanha dos anos 20 como a Rússia de 17, pois cada qual tem suas próprias realidades e causas.

Respondeu-se que não faz sentido aplicar um método distinto para a realidade tomada em seu micro e seu macro, e que é justamente com base no fracasso alemão que se pode compreender melhor o sucesso russo.

Acrescentou-se, também, e a propósito, que de qualquer forma é um objetivo científico que nos faz estudar o passado.

Neste ponto, iniciou-se então outro debate, sobre determinações e causalidade. Tentou-se sustentar que as determinações compreendidas do passado não podem ter a mesma qualidade das determinações previstas para o futuro. De forma que quando Kautsky diz, após o fracasso da greve de massas, que ele estava certo em ser contra ela já antes desse fracasso se dar, ele incorre em desonestidade, dando retrospectivamente ao fato consumado um estatuto que evidentemente não possuía antes de se consumar, quando era uma previsão (independentemente de sua probabilidade de êxito).

Disto houve discordância, colocando-se que o futuro não é aleatório, que tem causalidades determinadas, mas debateu-se ainda que não se trata de negar determinações ao futuro, mas de compreendê-las como essencialmente diferentes das determinações do passado.

Foi dito então que, historicamente, com vistas ao futuro, não há determinações (tal como há no presente e no passado), que talvez possa haver tais determinações para a ação política, mas mesmo aí a determinação é diferente.

Defendeu-se aí, então, que não se pode simplesmente dizer que alguém como Kautsky é revisionista ou desonesto, pois além de nossa posição relativa na história ser confortável, não sofremos as pressões das determinações que afligiram Kautsky. Defendeu que Kautsky assim procedeu por julgar não haver determinações favoráveis o bastante para atividade revolucionária do partido, sendo mais promissora a opção pela legalidade do partido e pela disputa parlamentar. Nesse ponto, pareceu haver consenso do grupo que não se tratava de tomar tão levianamente um autor como Kautsky, subjetivando-se uma crítica a ele, e sim de considerar que, a despeito de todas as pressões e dificuldades concretas sobre sua própria pessoa e ação, ainda há uma responsabilidade histórica, objetiva, pelas escolhas dos teóricos, práticos e revolucionários. E é isso que deve ser tomado séria e criticamente, independentemente do “conforto” relativo no qual nos encontramos para fazê-lo hoje.

Por fim, ponderou-se o contraste entre a compreensão de Kautsky de que a melhoria das condições de vida acirraria a luta pela revolução e o que adveio de fato no século XX – exatamente o contrário.

Considerou-se ainda que Gramsci teria sido influenciado por conceitos presentes em Kautsky

Relatório de Leitura e Debate - 14/05/2015



Debate entre Rosa Luxembrugo e Karl Kautsky:

- são feitas diferentes leituras acerca do texto de Engels. Kautsky situa como um texto revisionista em que a solução seria pela via parlamentar, enquanto a Rosa entende que o texto fala sobre a necessidade de organizar a classe operária. Ou seja, cada um faz a leitura conveniente ao seu próprio ponto de vista. 

- Aventou-se que Engels teria trazido pela primeira vez o debate sobre o espontaneísmo. Obviamente este só amadureceria com Lenin, mas já teria aparecido de maneira incipiente em Engels.

- Kautsky critica a Rosa dizendo que os exemplos da Áustria e da Prússia são inadequados, mas ele mesmo traz o um exemplo revisionista romano, ou seja, muito mais afastado historicamente e com muito menos semelhanças nos aspectos produtivos e de organização. 

- Kautsky teria "errado feio" em dizer que em tempos de prosperidade o trabalhador encontrará mais motivação para ir para a rua. Na verdade, se trataria de uma projeção da vontade interna do autor interferindo em sua análise dos fatos. 

- Fez-se algumas considerações sobre o modo como o texto da Rosa dialogava com a extensão sobre greve: 

1) A Rosa fala sobre como o debate sobre o sufrágio com o Katsky não se estabeleceu de maneira arbitrária, mas surgiu de uma urgência interna ao Partido de discutir a questão. 

2) Os dirigentes sindicais não têm poder para impedir um movimento que vem das massa. Se o Partido não apoiar e tentar freá-lo, elas não perderão o ânimo, perderão a confiança na direção.

3) É feita, também, uma crítica à ideia de que a greve de massa seria uma ferramenta que pode ser utilizada a qualquer tempo e para qualquer fim. Em realidade, a greve de massa seria um instrumento que precisa de condições específicas para se realizar (coalizão de massas, finalidade,...). 

4) O modo como a Rosa defende a necessidade de levar a discussão para as massas e que achar que a oposição não conhece "nossos" defeitos e fraquezas é subestimá-la. Enquanto o Kautsky tenta manter a discussão no parlamento, talvez por medo de uma massa que ele não poderia conter e controlar.

- Por último, discutiu-se como a divisão em greve política e greve econômica, enquanto manifestação de uma influência positivista classificatória, ainda que possa ter a sua relevância no plano teórico, perde o sentido quando se analisa o desenlace dos acontecimentos reais. Assim, tem-se que mesmo que a mobilização tenha por ensejo reivindicações econômicas, ela pode levar a uma posterior politização da pauta.

segunda-feira, 18 de maio de 2015

Relatório de Leitura e Debate - 07/05/2015





Texto: “¿Y ahora qué?”, de Karl Kautsky


- De início, foi levantado um problema de método nas categorias apresentadas por Kautsky para classificar os diversos "tipos" de greve geral. Dividir os tipos de greve em "demonstrativas" e "coercitivas" revela positivismo em sua abordagem. Ele recorre a abstrações pré-concebidas para classificar uma realidade que é dinâmica e contraditória.



- No texto seguinte, inclusive, Rosa Luxemburgo fará a crítica dessas categorias usadas por Kautsky, ligando o seu uso à Bernstein e ao reformismo da Segunda Internacional.



- Entrou em discussão, logo depois, a questão das abstrações e o uso delas no método das ciências sociais. Foi colocado como problematização que não apenas o positivismo faz uso das abstrações, mas também o método dialético. Entretanto, esses dois métodos fazem uso diferente das abstrações. O positivismo parte de abstrações elaboradas pelo sujeito, tido como imparcial e alheio o objeto, que procura a partir delas classificar e entender a realidade. O método dialético, não: ele recorre às abstrações necessárias para compreender a dinâmica do concreto e a ele retornar depois.



- Foi alvo de críticas essa visão de imparcialidade do positivismo. A ciência marxista não é imparcial, na medida em que é seu pressuposto a transformação da realidade. Não devemos procurar ser imparciais e neutros, mas sim adotar uma visão de classe. Cada classe produz sua ciência. O positivismo é conservador por excelência e a dialética materialista, revolucionária. O outro lado é todo o restante do mundo, não somos nós quem devemos dar voz a eles.



- Em alguns trechos, Kautsky reputa à Rosa Luxemburgo coisas que ela não disse, o que denota certa desonestidade intelectual de sua parte.



- Foram feitas discussões comparando a greve geral debatida no texto com a atual greve dos professores estaduais. Foi discutida a intransigência do governo com os professores, que conseguiu, na justiça, uma liminar impedindo que o sindicato entre nas escolas para convencer os professores a aderir à greve.


- Discutimos também as mobilizações de junho, que não tiveram a classe organizada em sua composição. Podemos fazer algum tipo de paralelo com a greve do texto e as manifestações, mas, por conta da presença da classe trabalhadora organizada nas greves gerais e ausência dela dessa forma nas recentes manifestações, precisamos entender ambos como fenômenos diferentes.


- Acrescenta-se a este relatório questionamentos elaborados após a reunião:
Não teria ficado clara a passagem "De início, foi levantado um problema de método nas categorias apresentadas por Kautsky para classificar os diversos 'tipos' de greve geral. Dividir os tipos de greve em 'demonstrativas' e 'coercitivas' revela positivismo em sua abordagem. Ele recorre a abstrações pré-concebidas para classificar uma realidade que é dinâmica e contraditória."

E também outra passagem que parece tentar explicar a diferença entre o método positivista e o dialético de recorrer às abstrações:

"[...]. O positivismo parte de abstrações elaboradas pelo sujeito, tido como imparcial e alheio o objeto, que procura a partir delas classificar e entender a realidade. O método dialético, não: ele recorre às abstrações necessárias para compreender a dinâmica do concreto e a ele retornar depois."

Questões:
1. Em que momento do texto o autor (Kautsky) se colocou como "imparcial e alheio ao objeto". Isso me escapou na leitura.

2. "Quem" define quais são as "abstrações necessárias"? O próprio objeto? Mas isso não tem de passar pelos sujeitos, cujos cérebros não funcionam senão por abstrações (Introdução de 1857)?

3. O método dialético não trabalha sobre abstrações, simples e gerais, rumo a outras abstrações, mais concretas e complexas (e eis aí classes de abstrações, segundo a Introdução de 1857)?

4. Pergunto se a mesma acusação de "positivismo" não poderia ser feita a Lênin, de Que fazer?, quando divide a luta de classes em "luta econômica" e "luta política", para polemizar com o economicismo que via esta contida necessariamente naquela e que rejeitava mesmo essa classificação?

Relatório de Leitura e Debate - 26/03/2015



Os debates se iniciaram com comentários das discussões da reunião anterior.

A seguir, comentou-se acerca da ideia de consciência de classe, que no início do século XX possuía uma acepção mais subjetiva. Como exemplo pode-se citar Lukács. Lembrou-se que a leitura imediata do capítulo sobre a ideologia da obra Teoria Geral do Direito e Marxismo” de Pachukanis daria a entender ser ele adepto também do subjetivismo, mas o resto da obra é precursora da ideia de que a ideologia interpela o indivíduo como sujeito. A obra em si é estruturante.

A mencionada perspectiva subjetivante era típica do início do século XX, dentro e fora do marxismo. No Direito, por exemplo, Kelsen também abordou a ideologia na perspectiva subjetivista.

Apontou-se que Gramsci marcou a virada para uma perspectiva mais objetivante.

A seguir, apontou-se que essa ideia subjetivante de então pode decorrer do fato de não ser a Ideologia Alemã uma obra conhecida até então.

Destacou-se, após, trechos das páginas 97/98 que revelariam a ideia de totalidade, o compromisso metodológico do autor.

Comentou-se trecho da pág. 100 que mostra a aplicação da dialética em contraponto a ideia evolucionista. Lembrou-se que Marx fala sobre o caráter revolucionário da classe média na crítica ao programa de Gotha. Verifica-se do texto que seria impossível ao capitalismo proletarizar toda a sociedade (o que seria utópico e desnecessário, mas que o proletariado precisa ser grande o suficiente e politicamente suficiente para vencer a contra-revolução. Este tipo de questão aparece com frequência em “Que Fazer?”: a ideia de direção consciente (consciência do processo em que está envolta), de hegemonia.

Tem-se aqui uma primeira proposta de transição conduzida pelas classes dominadas, um certo dirigismo não de natureza artificial, mas orgânico, surgido nas bases.

Na pág. 101 aborda-se a planificação a partir da grande produção e a produção em nível mais adiantado como elemento propiciador do processo revolucionário. O socialismo é produção em grande escala organizada, não uma soma de pequenas cooperativas.

Discutiu-se a planificação como condição geral do socialismo. Apontou-se que costuma-se pensar na divisão do trabalho apenas a partir da ideia de alienação, mas a divisão social do trabalho permitiria uma atuação no sentido da planificação. O nível material se elevaria quando da planificação, mas seria um processo tenso, dialético, não inevitável.

Apontou-se que o texto aborda o papel do Estado nesse processo de passagem para a economia coletivista, bem como o teor internacionalista, contida na crítica ao socialismo de um só país.

Voltando ao texto, comentando a pág. 103, comentou-se sobre o capitalismo como entrave ao desenvolvimento da técnica. Esse entrave não é uma condição bastante para o capitalismo.

Apontou-se, ainda, a questão da luta de classes como elemento científico construtor do método. Mesmo que os elementos objetivos estejam colocados, não é possível realizar o socialismo sem o componente subjetivo(luta de classes).

Questionou-se: as condições para o socialismo estavam dadas objetivamente? A experiência soviética teria dado certo? É uma revolução traída (nome de livro que trata da burocratização da URSS)? Comentou-se que as condições não estavam colocadas e que apenas na década de 1950 a capacidade produtiva da URSS se igualou ao ocidente. As condições não eram suficientes para “completar a revolução”. Uma revolução prematura já nasce traída?

Lembrou-se que Trotsky ensina que a tomada do poder não se confunde com a construção do socialismo.

Seguiu-se uma discussão acerca do processo histórico em torno da relação entre o desenvolvimento das forças produtivas e a tomada do poder. As forças produtivas na União Soviética não teriam avançado, mas apenas alcançado o que já havia no capitalismo internacional. A partir daí a propriedade privada foi substituída por uma direção de burocracia de Estado. Mas mesmo esse desenvolvimento não permitiria a superação do Capitalismo. Questionou-se, então, a possibilidade de completar a transição sem que haja uma tomada de poder em nível internacional.

O Prof. Orione voltou à questão da consciência de classe, seguindo-se fala do colega Pablo acerca do subjetivismo como classe.

Voltando ao texto, na página 108 Trotsky fala no proletariado do campo, conceito normalmente associado ao trabalhador da fábrica. Ou seja, também há indústria no campo. Falou-se, então, que terra e capital são meios de produção, lembrando-se que Marx fala da terra como meio de produção quando aborda a acumulação primitiva e a necessidade de tirar o produtor desse meio de produção. Enfrenta-se, assim, a tendência de pensar a liderança da cidade sobre o campo.

A reunião se encerrou abordando a ideia de “hegemonia”, termo recorrente entre os séculos XIX e XX e a ressignificação dada ao termo por Gramsci.